E quando chegam notícias da escola, de que o nosso filho não para quieto, não ouve nada do que se lhe diz, não aprende nada e não tem condições para passar de ano? Ou quando temos um filho desmotivado com tudo o que o rodeia, não quer sair casa, mal sai do quarto, e pouco ou nada fala?

Infelizmente, situações como estas são comuns, em muitas em crianças e jovens, e preocupam os pais que tudo fazem para os compreender e ajudar. Acontece que os pais fazem o melhor que podem e sabem. No entanto, não são médicos, nem psicólogos com conhecimentos técnicos para conseguir ajudar os seus filhos a ultrapassar estas dificuldades. Precisam de apoio para os conseguir ajudar.

O instinto por parte de quem os vê crescer e sente que alguma coisa pode não estar bem, deve ser tido em consideração. E quanto mais cedo essa ajuda acontecer, maior a facilidade de ajustar comportamentos e direcionar o desenvolvimento da criança.

O problema ganha outra dimensão quando a família vive em dificuldades e não procura apoio especializado por falta de recursos financeiros, ou até faz esse esforço inicial para um diagnóstico, mas desiste do acompanhamento por não ter condições para suportar este tipo de tratamentos.

O atual Sistema Nacional de Saúde não tem capacidade para dar resposta, nem ao nível do diagnóstico nem ao nível da intervenção. Chegam a ser anos de espera e muitas vezes as famílias não têm sequer qualquer resposta. Este tempo de espera é um desgaste imenso para quem vive a ansiedade e a preocupação de que alguma coisa não está bem com o seu filho.

A CAPITI, uma instituição particular de solidariedade social, fundada em 2016, nasceu precisamente para apoiar estas famílias com condições socioeconómicss fragilizadas que de outra forma não teriam acesso a uma intervenção adequada às necessidades dos seus filhos. Desde então, a CAPITI já fez a diferença na vida de mais de 380 crianças e jovens em Portugal.

Infelizmente, no nosso país, são imensas as necessidades de apoio em saúde mental infantil. Há cada vez mais casos diagnosticados a precisarem de ajuda. Com a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação a subir, a situação de muitas famílias agravou-se.

Graças à rede de clínicas parceiras da CAPITI, com equipas multidisciplinares, estas famílias têm acesso a apoio médico e terapêutico que de outra forma seria impossível ou ficaria muito aquém do desejado.

Hoje, a CAPITI garante o acompanhamento, de forma regular, de uma média de 170 crianças por ano. Este compromisso representa um orçamento anual de cerca de 200 mil euros, valor obtido exclusivamente a partir um exigente trabalho de angariação de fundos, junto de particulares e empresas privadas. Criámos um modelo de apadrinhamento das crianças para uma maior proximidade com mecenas, com relatórios regulares da evolução do acompanhamento. Assim, cria-se uma maior ligação entre quem ajuda e quem é ajudado, promovendo apoios mais duradouros.

Em relação à equipa, apenas uma pequena parte é assalariada, fundamental para garantir um crescimento estruturado e sustentado da instituição. Parte do trabalho é feito por voluntários, o que permite libertar donativos para apoiar mais famílias.

Para ser voluntário é preciso entregar-se, dia após dia, a uma missão de forma a garantir a continuidade da instituição. Isso representa um envolvimento muito maior do que num “trabalho convencional”. O sentido de responsabilidade é mais forte, porque se não fizermos, corremos o risco de ninguém o fazer. Numa empresa a estrutura é outra, o trabalho não para. Nestas associações não. Se pararmos, quem fica lesado são as famílias que deixam de beneficiar dos serviços de saúde que prestamos.

Acabo com um agradecimento às clínicas, à equipa da CAPITI e aos parceiros que apoiam a nossa causa. Graças ao empenho e dedicação desta rede é possível dar uma vida digna e estas crianças e jovens.  É com enorme sentido de responsabilidade e gratidão que trabalho, todos os dias, numa associação que tive a sorte de ajudar a nascer e ver crescer. Sou voluntária há 16 anos e tenho a certeza de que recebo muito mais do que aquilo que dou.

Mariana Saraiva é presidente da Direção da CAPITI